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quarta-feira, 2 de março de 2011

Duas estrelas deixaram de brilhar entre nós para brilhar no céu!

A perda que os paraenses sofreram com as mortes de Alonso Rocha e Benedito Nunes, será amenizada com a lembrança dos que tiveram a oportunidade de conhecê-los através dos seus respectivos trabalhos.

De Alonso Rocha, eu guardo a lembrança da última Semana Cultural da Academia Paraense de Letras, da qual, o mesmo era o presidente.



O jeito simpático, divertido e muito irônico cativava a todos que puderam conviver com ele, mesmo por algumas horas. Lembro que ele me contou sobre um poema que fez para uma médica que lhe fez uma delicada cirurgia, ele falou com toda a modéstia que saiu do hospital sem pagar a conta devido ao poema e declamou-o para os que estavam presentes naquele momento, com todo o sentimento que um verdadeiro poeta tem! Ao falar sobre a brevidade da vida, declamou o seguinte poema:
Breve Tempo
© Soneto Alonso Rocha

Se me queres amar ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.

Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar debruça e chora
hoje que o meu regaço é doce e quente.

A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame
ninho vazio que o vento derrubou.

Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração o olhar deserto
nem mesmo eu saberei que já não sou

Ao final da nossa conversa, falando sobre a morte, o Príncipe dos Poetas disse: “Irônica é a morte, que nos enfeita de flores”. Benedito Nunes, foi um verdadeiro intérprete da Amazônia, um homem que nasceu e viveu para a busca incansável de conhecimento, ele foi filósofo, professor, crítico literário, e além de tudo isso, foi um bom homem, um cidadão que jamais sairá da memória dos que, assim como ele, são grandes estudiosos.

Na semana cultural que citei, ele foi mencionado várias vezes na palestra sobre Clarice Lispector, a qual, ao conhecer o filósofo encantou-se com seu grau de intelectualidade. Eles foram apresentados por Francisco Paulo Mendes no “Grupo do Café Central”, onde discutia-se política, filosofia e questões sociais.

Anos mais tarde Benedito Nunes publicou “O Drama da Linguagem”, ensaio que analisou o aspecto literário e filosófico de Clarice Lispector. O filósofo ouviu da escritora a seguinte frase: “Você não é um crítico, mas algo diferente, que não sei o que é.”


Melhor do que ouvir falar sobre Benedito Nunes, é ouvi-lo. Tive a honra de ter tal experiência em uma palestra ministrada pelo filósofo no 8° colóquio de fotografia e imagem, organizado pela Associação Fotoativa, que teve como tema “Filosofias da imagem: poéticas da caixa preta”. O filósofo falou sobre “Imagem e fenomenologia”, e sua palestra era uma das mais esperadas. Lembro-me que a cada autor que ele citava, ele pedia para o público aguardar por um momento e retirava da sua bolsa livros que ilustravam a sua fala. Quantas pessoas naquele momento desejaram tanto ter aquela bolsa!

Tantas pessoas que admiraram e não perderão tal admiração nem por Benedito Nunes, nem por Alonso Rocha, tantos tiveram a oportunidade de aprender com eles. Aprender não apenas sobre os seus trabalhos, mas com toda a lição de vida que cada um, ao seu modo, deixou eternamente em nossa memória!