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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Falta de vagas em asilos públicos de Belém

“Nós aqui no Pará estamos carentes de casas, hotéis e pousadas geriát ricas, em Belém só há uma casa em que o idoso é atendido com dignidade, que é o Pão de Santo Antônio, as outras são deficientes de tudo”. Essas são as palavras de Clívia Afonso, 74 anos, paraense, que procurou um lugar decente no qual pudesse viver tranquila com seu marido Amindas Afonso, que tem Mal de Alzheimer. O casal optou por ficar em Belém, mas sentiu a necessidade que há de Entidades de Acolhimento do Idoso.

No dia 1º de outubro foi o dia Internacional e Nacional do Idoso, mas em Belém não houve muito que comemorar nesse dia. O número de Instituições de Longa Permanência para Idosos do Estado é hoje insuficiente para a crescente demanda. Com listas de espera enormes e sem a qualidade de vida e a atenção necessária, muitas pessoas de idade não têm outra saída que não seja recorrer a instituições particulares. Belém conta hoje com três instituições de longa permanência para idosos (nome correto dos asilos), sendo eles o Pão de Santo Antônio, que é particular, o Abrigo Lar da Providência e a Casa Socorro Gabriel, ambas mantidas pelo Estado.

Segundo Valéria Sagica, assistente social do Pão de Santo Antônio, há três situações hoje de entrada na instituição: espontâneo, encaminhamento por orgãos públicos (Ministério Publico, hospitais) e a busca por familiares ou terceiros como vizinhos e amigos; em todos os casos, o idoso passa por uma avaliação clinica e psiquiátrica. Idosos com transtornos mentais ou psicológicos não são aceitos, pois mesmo se tratando de uma instituição particular, o Pão de Santo Antônio não tem estrutura para tratar de casos assim.

O artigo 50 parágrafo 16 do Estatuto do Idoso dá às Entidades de Atendimento ao Idoso o direito de “comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares”. Quando a família simplesmente “larga” aquele parente por não ter mais condições de cuidar dele ou por que o considera como um fardo, contribui assim para que se repitam hoje as mesmas cenas em hospitais e instituições públicas, com pessoas idosas em macas e cadeiras pelos corredores, maus tratos de funcionários, e escassez de comida e remédios.

Há muitas diferenças no tratamento oferecido ao idoso por uma Entidade pública e uma privada. No Pão de Santo Antônio, por exemplo, os idosos contam com uma boa estrutura não só de moradia, mas psicológica também. Eles pagam uma mensalidade com a própria aposentadoria, recebem visitas freqüentes de seus familiares, têm ao seu dispor uma equipe técnica composta por um clínico geral, professora de educação física, fisioterapeutas, nutricionista e terapeuta ocupacional. Alguns desses profissionais vêm de instituições que disponibilizam os materiais necessários às atividades dos idosos, como a Universidade da Amazônia.

O contrário dessa realidade pode ser vista em Instituições de Longa Permanência públicas, como o Abrigo Socorro Gabriel, localizado na Travessa Padre Eutíquio, no qual a entrevista foi negada. Em instituições como essa, o idoso só é acolhido se realmente não tiver alguém responsável e a estrutura oferecida é precária. Essa é a realidade dos idosos não só no Pará, mas do Brasil inteiro. Pessoas que já trabalharam tanto, já passaram muitas vezes por necessidades, batalharam para educar seus filhos, vivem no final de sua vida à mercê da caridade de uma minoria que se sensibiliza com tal situação.

Mais do que um lugar físico para serem acolhidos, os idosos precisam de afeto. Clívia Afonso, sentiu que no Pão de Santo Antonio o seu marido que tem Mal de Alzheimer obteve uma melhora, pois a comunicação e o bem estar refletiram na sua saúde, como dito por ela, “o ser humano não nasceu pra viver sozinho, aqui no amanhecer você já tem pra quem dar bom dia”.


Matéria feita com Debb Cabral.
Fotos: Camille Nascimento

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Excelente matéria. Busquei informação na internet sobre o assunto, mas até agora só tinha encontrado fotos desconexas e notas resumidas.Parabéns. (Sandra Freitas)

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